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Circular da 1ª Exposição de Três Corações

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Mais um grande sucesso CAFIB!

expo 3 coraçõesFotos antigas do arquivo particular do Chico.

O demorado processo que, ao longo de séculos, resultou na formação do cão Fila Brasileiro tem algo de nebuloso e já ensejou diversas teorias. Mas, ainda que a fórmula fosse pormenorizadamente decifrada, ela não poderia ser refeita porque as raças molossóides e bracóides que participaram daquele caldeamento foram passando por modificações e os exemplares que vemos hoje nas exposições são bastante diferentes dos seus ancestrais vindos para o Brasil na época da colonização. O Bulldog Inglês atual é quase uma caricatura do seu antepassado que lutava com touros; e o Mastiff que participa das modernas mostras cinófilas deriva de um trabalho de reconstituição da raça original que, como quase todas as de porte muito grande, tinha sido praticamente extinta durante a 2ª Guerra Mundial. Além disso, juntamente com os empíricos e desuniformes critérios de criação que norteavam os donos de Filas nas diversas regiões rurais brasileiras, também atuou de forma intensa a seleção natural, que eliminava os menos aptos a sobreviver nas duras condições daquele meio, naquela época.

Já a história do Fila Brasileiro, como raça oficialmente reconhecida pela cinofilia brasileira e mundial, é bem documentada. Embora existam registros esporádicos da participação de um ou outro Fila (de Benedito Faria Camargo e João Laraya) nas exposições paulistas a partir de 1939, essa história realmente começa em 1948, quando o advogado santista Paulo Santos Cruz (1915-1990), conhecido como Dr. Paulo, trouxe, do sul de Minas Gerais para o litoral paulista, os primeiros exemplares do então chamado Fila Nacional, mas que nas diferentes regiões rurais recebia variadas denominações, como Boiadeiro, Onceiro, Cabeçudo e Atravessado. A partir daquele primeiro celeiro de filhotes, em Varginha, nas terras do açougueiro José Gomes de Oliveira (1903-1998), conhecido como Zé Gomes, o pioneiro Dr. Paulo constituiu seu Canil Parnapuan; e suas viagens, nos pequenos aviões que ele mesmo pilotava, se estenderam para outras cidades mineiras – como Carmo de Minas (antiga Silvestre Ferraz), onde o principal fornecedor de material genético era Pedro Ribeiro Junqueira de Souza (1908-1991), conhecido como Pedrinho do Engenho, e Itanhandu, terra do tradicional criador João Costa (1.905-1.981) –, sempre adquirindo cães a que ele dava nomes iniciados com a letra “T” (Tamoyo, Tauá, Timbó, Tupi etc.), para identificar essa origem “de fazenda”, pois nas ninhadas nascidas em seu canil ele seguia a tradicional ordem alfabética. Nos anos 1960, sua criação recebeu proveitoso impulso a partir de um intercâmbio com o inglês William Frederick Chalmers (1921-2002), conhecido como Mr. Chalmers, ou simplesmente Bill, como ele gostava que os amigos o chamassem (talvez por uma analogia consciente, ou subconsciente, com seu quase xará norte-americano William Frederick Cody (1846-1917), o lendário Buffalo Bill?). Esse criador provinha de uma família britânica, que começou a explorar ouro em Minas Gerais no século XIX e passou a residir, a partir de 1911, em Pedro Leopoldo, na histórica Fazenda Jaguara, fundada em 1724. Ali, a rigorosa seleção de Filas foi iniciada nos anos 1950, também a partir de exemplares adquiridos de Pedrinho do Engenho. Como curiosidade, vale lembrar que, embora seja muito comum nas propriedades rurais brasileiras a construção de capelas, naquelas terras foi erigida uma verdadeira igreja. E essa Igreja Nossa Senhora da Conceição da Jaguara foi projetada e construída nos anos 1780 por ninguém menos que o arquiteto, escultor e entalhador Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o célebre Aleijadinho, considerado internacionalmente o maior artista colonial do Brasil e cujas obras foram declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO.

A participação do Fila Brasileiro em exposições já tinha começado a se intensificar em São Paulo, mas de forma irregular e amadora, com cães de Carlos Alberto Euler Bueno (Canil Vila Paulista), João Ebner (Canil Rancho Alto), João e Dirce Accioli (Canil Tapiocanga) e alguns outros, mas foi só em 1952 que o Kennel Club Paulista publicou o primeiro padrão oficial da raça, assinado pelo advogado Paulo Santos Cruz, o veterinário Erwin Waldemar Rathsam e o engenheiro João Ebner, permitindo que os exemplares passassem a ser avaliados por parâmetros técnicos. Ainda nos anos 1950, merece registro a criação de Filas iniciada pelo arquiteto ucraniano, formado em Roma e naturalizado brasileiro, Gregori Warchavichic (1896-1972), que por sua ligação com o grupo de artistas e intelectuais responsáveis pela Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo em 1922, registrou seu canil com o afixo Macunaíma, nome do conhecido livro escrito por seu amigo, também modernista, Mário de Andrade (1893-1945). A primeira exposição oficial de cães – mas ainda sem a participação de representantes da raça Fila Brasileiro – promovida pelo Brasil Kennel Club (que viria a se tornar a entidade mater da cinofilia nacional) tinha ocorrido em 1923, no Rio de Janeiro. O reconhecimento oficial da raça Fila Brasileiro pela entidade mater da cinofilia mundial se deu nos anos 1960, quando o juiz brasileiro Antonino Barone Forzano, tornou-se o primeiro sul-americano a presidir a FCI (Fédération Cynologique Internationale ou Federação Cinológica Internacional).

A partir de 1978, em decorrência da descontrolada mestiçagem que ameaçava a sobrevivência da raça, os integrantes do CAFIB – Clube de Aprimoramento do Fila Brasileiro voltaram a percorrer as propriedades rurais do sul de Minas Gerais com o objetivo de resgatar os remanescentes daquelas antigas linhagens e, depois, passaram a realizar as Análises de Fenótipo e Temperamento para eliminar os mestiços e selecionar os puros. E, na primeira dessas análises, em 26 de agosto de 1979, na capital paulista, o Mestre de Criação do CAFIB e juiz “all rounder” Paulo Santos Cruz, juntamente com os juízes do CAFIB Airton Campbell, Roberto Maruyama e Américo Cardoso dos Santos Jr., avaliaram 113 cães. E na segunda análise, em março de 1980, um destaque do evento foi a chegada do criador mineiro José Hamilton Alves Pereira, que veio de seu Canil Aquenta Sol, em Varginha, a bordo de um caminhão Dodge com sete Filas na carroceria, entre os quais Maroto da Jaguara, da tradicional criação de Mr. Chalmers.

Agora, neste ano de 2015, em que o CAFIB – com 27 representações no Brasil e no exterior – comemora sua 100ª Exposição Nacional, depois de ter ultrapassado a marca de 300 exposições e de 6.000 análises em quase todos os estados brasileiros e em diversos países da Europa e da América do Norte, voltamos ao sul de Minas Gerais, berço da raça, para promover, no dia 23 de agosto, a 1ª Exposição do Fila Brasileiro CAFIB de Três Corações, MG.

Essa cidade, às margens da Rodovia Fernão Dias (BR-381), tem uma localização estratégica por estar situada de forma equidistante entre três das principais capitais brasileiras: fica a 249 km de São Paulo (SP), 250 km do Rio de Janeiro (RJ) e 253 km de Belo Horizonte (MG). Além disso, também fica no centro da região considerada o berço da raça Fila Brasileiro, entre Varginha, Carmo da Cachoeira, Lavras, Itanhandu e Carmo de Minas. O filho mais ilustre de Três Corações, registrado como Édson Arantes do Nascimento, mas mundialmente consagrado como “Rei Pelé”, tornou-se o melhor jogador de futebol de todos os tempos, além de ter sido reconhecido internacionalmente como “O Atleta do Século”. Na entrada da cidade foi erigido um monumento ao craque tricordiano.

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Quem viaja para Três Corações, ao chegar perto da cidade, passa por diversas placas na beira da estrada indicando a Venda do Chico. O estabelecimento, fundado por Francisco Carlos Gonzaga Reis, mais conhecido como Chico da Venda, começou vendendo artigos simples para trabalhadores rurais. Hoje já se tornou uma conhecida rede de restaurantes especializados na típica culinária mineira e de seu cardápio constam pratos como frango com quiabo, costelinha de porco com mandioca, torresmo e pau-a-pique (a tradicional rosca de fubá enrolada em folha de bananeira). A dois quilômetros do local, uma placa maior, além de “Venda do Chico”, também anuncia “Fila Brasileiro”.

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É que esse comerciante é um grande criador da raça, dando continuidade ao plantel iniciado há décadas por seu avô, depois mantido por seu pai, que adquiriu cães de Zé Gomes, e hoje é administrado por ele e sua família. Aliás, as diversificadas atividades desse empresário (restaurantes, lojas, haras e canil) envolvem todo o clã: sua mulher, Ana Cláudia Machado Pereira Reis e seus filhos, Thalita Pereira Gonzaga Reis, Matheus Pereira Gonzaga Reis e Francisco Carlos Gonzaga Reis Jr.

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expo 3 coraçõesPedro, Luciano, Paulo Augusto, Chico e Matheus.

Na segunda Venda do Chico, onde a família Reis cria os cães Fila Brasileiro e os cavalos Pampa e Mangalarga Marchador, estão as excelentes instalações para as exposições equestres e as provas hípicas, realizadas várias vezes por ano.

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E, a pista de grama deste local (plana, bem cercada, com tendas brancas, cadeiras e mesas para acomodar grande número de pessoas) foi o palco da exposição do CAFIB, organizada pelo criador Marcus Flávio Vilasboas Moreira, titular do Canil Guardiões do Caracu, de Belo Horizonte (MG), com forte apoio de toda a família do Chico. Seus filhos Matheus e Francisco Júnior circularam pela a região, em caminhonetes pintadas com os dados do evento, colocando cartazes e distribuindo folhetos e panfletos.

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A mostra foi um grande sucesso, alcançando o número recorde de 39 inscrições para a Análise de Fenótipo e Temperamento, com exemplares que impressionaram os juízes do CAFIB por sua estrutura e tipicidade, mas desprovidos de qualquer documento de origem. É que muitos criadores da região procuram apenas selecionar a “pureza e a brabeza” de seus Filas, sem se preocupar em registrar suas ninhadas. Os cães começaram a ser analisados de manhã, às 09:00 horas, pelos juízes Airton Campbell, Pedro Borotti, Jonas Tadeu Iacovantuano e Paulo Augusto Monteiro de Moura, auxiliados pelo tradicional criador Giovani Éder de Carvalho, em fase de preparo para tornar-se juiz. O meticuloso trabalho burocrático de secretaria foi desempenhado por Mariana Campbell e Denise Gavião, ao passo que as fotografias foram tiradas por Bruna Frias e Cíntia Junqueira de Barros. O também juiz e presidente do CAFIB, Luciano Gavião, além de veterinário responsável, ficou encarregado de colocar os microchips nos inscritos, enquanto Fabiano Nunes “Jawa” atuou como “cobaia” nas provas de temperamento. Dos 39 inscritos na análise, 11 foram reprovados: um por atipicidade, um por prognatismo inferior acentuado e os outros por reação desqualificante nas provas de temperamento. Em decorrência do grande número de participantes, a Análise foi demorada e a Exposição só foi iniciada às 14:00 horas, com 46 exemplares em pista, sendo os machos julgados por Jonas Iacovantuono e as fêmeas por Airton Campbell. A classe mais numerosa foi a de Adultos Machos, com 9 concorrentes. Como de praxe, a Melhor Cabeça da Exposição e o Melhor Temperamento da Exposição foram escolhidos em conjunto, pelos dois juízes.

A expressiva presença de público interessado em acompanhar os julgamentos, acrescida pelas numerosas famílias, incluindo muitas crianças, que costumam comparecer aos tradicionais almoços de domingo na Venda do Chico, causou preocupação aos organizadores e juízes, mas graças à adequada infra-estrutura, reforçada pelas constantes recomendações de precaução veiculadas pelos alto-falantes, não houve acidentes.

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O único “quase acidente”, aconteceu quando Chico entregou o troféu de Melhor Macho da Exposição para o Cipó do Itanhandu.

Os criadores e expositores presentes vieram das cidades paulistas de Aparecida, Jacareí, Monte Mor, Porto Ferreira e São Bernardo do Campo; e das cidades mineiras de Aiuruoca, Belo Horizonte, Campos Gerais, Carmo de Minas, Caxambu, Itanhandu, Patrocínio, Três Corações e Varginha. Entre os aficionados que prestigiaram o evento com sua presença, mas não trouxeram seus Filas, merecem destaque José Hamilton Alves Pereira, que além de já ter sido agraciado com o troféu de “Criador do Ano”, também organizou diversas análises e exposições em Varginha e cujo conhecido Canil Aquenta Sol produziu cães antológicos, como Timbó do Aquenta Sol e Leãozinho do Aquenta Sol, ambos várias vezes considerados “Ótimos” e premiados com Medalha de Ouro, inclusive pelo “Pai da Raça”, Paulo Santos Cruz.

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Outros tradicionais criadores presentes foram Átila Luís B. Dias (Canil Barão dos Filas), Cristóvão Giancoti (Canil Tabayara), Raymundo F. Cruz (Canil Gameleira) e Robson Freitas (Canil Leões de Minas), todos de Belo Horizonte, além do paulista Nelson Nunes (Canil Mantiqueira), de Cruzeiro. Todos os presentes, criadores ou não, ficaram mais uma vez muito bem impressionados com a organização do CAFIB e com a seriedade e imparcialidade dos julgamentos, aliadas às rigorosas provas de temperamento e sistema nervoso, realizadas com critério e competência por figurantes experientes e com tiros de festim para avaliar a reação dos cães a um estampido forte e inesperado. A grande disputa final, para escolher o “Melhor Temperamento da Exposição” contou com presença de 6 machos e 2 fêmeas pré-selecionados e a prova foi realizada por dois figurantes que atacaram simultaneamente: Fabiano Nunes, com uma cadeira de plástico, e Carlos Augusto Mansur, o conhecido “Carlão”, com uma roupa especial de proteção e que atuou com coragem notável, chegando ao alcance dos cães e permitindo que eles se atracassem fortemente à manga.

Ainda é preciso ressaltar a triste situação em que se encontram muitos Filas nas fazendas dessa região, quase abandonados, muitas vezes cheios de bernes e bicheiras, frequentemente passando a vida inteira amarrados com cordas em troncos de árvores, brutalmente reprimidos quando exteriorizam seu instinto de guarda e se reproduzindo sem qualquer critério ou supervisão dos donos. Todos os juízes que atuaram neste evento de Três Corações ficaram extremamente constrangidos e aborrecidos por precisar reprovar alguns cães muito típicos, mas com reação desqualificante nas provas de ataque, e iniciaram um trabalho de conscientização dos criadores para que melhorem os cuidados com os animais e adotem critérios mais seletivos nos acasalamentos e na seleção dos filhotes, seguindo o bom exemplo dos criadores, Chico e Marquinhos.

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A diretoria do CAFIB agradece a Marcus Flávio Vilasboas Moreira e Matheus Pereira Gonzaga Reis, pelo empenho em realizar esta 1ª exposição em Três Corações e ao Chico e toda a sua família pela atenção, cordialidade e gentileza com que receberam toda a equipe do CAFIB e todos os criadores, expositores e público presente.

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