A recente eleição da médica veterinária Mariana Campbell como a nova presidente do CAFIB – Clube de Aprimoramento do Fila Brasileiro justifica registrar as lembranças de alguns fatos desconhecidos pelos novos criadores e entusiastas da raça.

Há mais de quarenta anos, no início de 1978, diversos aficionados da cinofilia e, em especial da raça Fila Brasileiro, se matricularam em um curso promovido pelo Centro Cultural Itamarati, na capital paulista. As aulas eram ministradas pelo advogado e juiz “all rounder” Paulo Santos Cruz, conhecido como o “Pai da Raça Fila Brasileiro”. Ele tinha começado a criar esses cães na década de 1940, era um profundo conhecedor de anatomia e genética caninas e fora um dos principais responsáveis pela elaboração do primeiro padrão da raça, reconhecido pela FCI – Fédération Cynologique Internationale poucos anos depois.

Esse curso no Itamarati foi fundamental para alavancar o movimento iniciado algum tempo antes por criadores de Fila, como Luiz Antonio Maciel (Canil Barra do Bugre) e Francisco Peltier de Queiroz (Canil Cafibra), que, inconformados com a mestiçagem e a falsificação de pedigrees, vinham denunciando essas irregularidades e propondo o surgimento de uma comissão técnica para o aprimoramento genético dos poucos exemplares puros remanescentes. E uma das primeiras conquistas alcançadas foi trazer de volta Paulo Santos Cruz para as atividades cinófilas, das quais ele tinha se retirado alguns anos antes.

Nesse curso, ele preparou vários alunos de importância fundamental para a consolidação da CAFIB – Comissão de Aprimoramento do Fila Brasileiro que, ao se tornar independente, transformou-se no CAFIB – Clube de Aprimoramento do Fila Brasileiro. Chegado o prazo para o término do curso, a pedido dos alunos e do próprio mestre, o Centro Cultural Itamarati concordou com algumas prorrogações das aulas. Depois, elas tiveram continuidade na casa da aluna Marilda Mallet e, finalmente, no escritório de arquitetura e construções do também aluno Airton Campbell. Durante esse período extra, o grupo também se deslocava com frequência para a cidade de Santos, onde as aulas eram ministradas na própria residência de Paulo e Antonieta Santos Cruz. O coroamento desse esforço foi a aprovação dos alunos Airton Campbell, Américo Cardoso dos Santos Júnior, Marilda Mallet e o casal Marília e Roberto Maruyama, como novos juízes do então BKC (depois CBKC), embora todos já fossem vistos com certa restrição pelos examinadores, em decorrência das insistentes denúncias e cobranças de providências sobre os numerosos cães mestiços, mas registrados como puros e portadores de pedigrees contendo genealogias falsas. É que a cinofilia dita “oficial”, embora tivesse conhecimento das falcatruas, preferia fazer “vista grossa” para continuar a manter a enorme fonte de renda decorrente das taxas pagas pela raça mais numerosa registrada no Brasil. Os atritos foram se intensificando e culminaram com a ruptura que transformou a Comissão em Clube independente, mantendo a sigla CAFIB.

Naquela época, passamos a desconsiderar quaisquer genealogias constantes de quaisquer registros ou documentos e decidimos recomeçar da estaca zero. Instituímos as Análises de Fenótipo e Temperamento e, com intervalo de poucas semanas, costumávamos fazer várias viagens por todo o Brasil fotografando e avaliando machos e fêmeas de todas as idades e das mais diversas origens, selecionando alguns e reprovando outros. E iniciamos o cadastramento dos exemplares aprovados. Além do resgate do Fila Brasileiro puro – que, não fosse o CAFIB, há muito estaria extinto –, essa intensa maratona resultou em fortes laços de amizade entre os integrantes do grupo composto por Paulo Santos Cruz e seus alunos. Éramos, então, jovens e, com exceção do mestre, ainda estávamos na faixa etária dos vinte ou trinta anos.

Hoje, passadas mais de quatro décadas, o ciclo se renova e a juíza do CAFIB Mariana Campbell se torna a primeira mulher a assumir a presidência de nossa entidade. Nascida entre os Filas do tradicional Canil Parque do Castelo, de seus pais Rosely e Airton Campbell, ela pode ser considerada uma cafibeana nata, desde o berço envolvida no melhoramento genético da raça e nas atividades do Clube, do qual vinha sendo a eficientíssima Secretária Geral desde 2014.

Mariana formou-se médica veterinária pela UNIP – Universidade Paulista, em 1998 e, no ano seguinte, concluiu o curso de especialização em reprodução de grandes animais na USP – Universidade de São Paulo; e, desde formada, vem trabalhando ininterruptamente com clínica médica e cirúrgica de pequenos animais. Além disso é produtora rural e pecuarista, tendo atuado em melhoramento genético e atendimento clínico de equinos da raça Puro Sangue Árabe e de bovinos das raças Gir, Jersey, Marchigiana, Nelore e Santa Gertrudis. Em 2004, tornou-se terapeuta floral de Bach pelo Bach International Education Programme Dr. Edward Bach Foundation.

Em 2005, passou a exercer a função de auxiliar de pista nos eventos do CAFIB e, no ano de 2008, em Guaratinguetá, SP, foi aprovada como juíza. Desde então, tem atuado em inúmeras Análises de Fenótipo e Temperamento, seguidas de Exposições do CAFIB, em diversos estados brasileiros, além de Argentina, Uruguai e Espanha.

Mariana, que tem o Fila Brasileiro nas veias, também é dotada de grande conhecimento técnico, somado à sua vasta experiência como criadora e juíza, ou seja, possui todos os atributos para exercer a função de Presidente do CAFIB, principalmente o intenso amor pela raça.

Parabéns e felicidades!